terça-feira, 18 de agosto de 2009

Wood & Stock

Sem grande novidade: O clássico festival de Woodstock ficou quarentão no último final de semana. Todas as TVs, revistas e sites da web lembraram o mundo sobre o festival de música e artes, pai de todos os grandes festivais de verão do hemisfério norte. Woodstock, que aconteceu entre 15 e 17 de agosto de 1969, em uma fazenda em Bethel, no estado de Nova York, foi o evento definitivo da cultura hippie e deu origem a um famoso documentário e a duas continuações, em 1994 e em 1999.

Para quem não se lembra, esse último foi aquele que terminou em uma bela confusão com fogueiras gigantes decorando a noite enquanto os Red Hot Chilli Peppers mandavam... “Fire”, de Jimmy Hendrix. Em outros tempos, o momento ficaria para história, mas a beira do novo milênio, o incidente causou o cancelamento do projeto comemorativo qüinqüenal.

Isso tudo vocês já sabem, mas o que a maioria dos veículos esqueceu é que o filme da Ang Lee que conta a história do festival vai estrear muito em breve, no próximo dia 28 de agosto. Nos EUA, é claro. Em terras brasileiras só no ano que vem, em 15 de janeiro, quando todo mundo já tiver baixado o troço e visto 12 vezes com os amigos, possivelmente fumando um baseado.

De qualquer forma, o trailer (esse aí em baixo) de Taking Woodstock (esse é o nome) é muito bom e promete duas horas bem divertidas. O filme conta a história de Woodstock pelos olhos de Elliot Tiber, uma garoto de 20 e poucos anos, que quando escuta falar da impossibilidade da realização do festival e uma área próxima, convida o evento a se instalar na fazenda dos pais, cujo motel está a beira da falência. 3 semanas depois, meio milhão de hippies estão acampados no quintal da família, fazendo história. Assiste aí:


quarta-feira, 29 de julho de 2009

Crying Lightning

Esse aí em baixo é o novo e esquisito vídeo dos ingleses do Arctic Monkeys para Crying Lightning, o primeiro single do novo álbum dos caras, Humbug. O disco chegará as lojas físicas e virtuais no próximo dia 25 de agosto, mas a música de divulgação já circula pela internet há algum tempo.

Produzida pelo dono do Queens Of The Stone Age, Josh Homme, a faixa pode assustar alguns fãs do quarteto em suas primeiras audições. A produção de Homme não acrescentou mais peso a música dos Monkeys, mas trouxe o lado mais stoner rock, viajadão, da banda estadunidense para o som dos ingleses, evidenciado pelo novo – e horroroso – penteado do vocalista e compositor Alex Turner.

Com uma linha de baixo muito boa e um refrão pegajoso, a faixa vai conquistando os ouvintes aos poucos. A mudança nos vocais de Alex Turner, entretanto, é mais difícil de engolir. Não que ele cante mal em Crying Lightning – muito ao contrario – mas o jeitão meio falado de narrar os contos da noite britânica que marcou os outros dois álbuns dava uma identidade própria aos Monkeys e fazem falta aqui.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Spinnerette – Spinnerette (2009)

As fotos, as entrevistas e o EP que antecederam o lançamento do primeiro álbum do Spinnerette já avisavam aos fãs da vocalista e compositora Brody Dale que não esperassem por um novo trabalho do Distillers com outro nome, mas ainda assim o disco auto-intitulado pode surpreender alguns. Spinnerette começa com as batidas dançantes de “Ghetto Love”, também presente no EP de mesmo nome lançado no final de 2008.

As referencias mais óbvias são o rock eletrônico do Garbage e o stoner rock do Queens Of The Stone Age, do marido da vocalista. Em maior ou menor doses, essas são influencias presentes em todo trabalho, que também não deixa de lembrar um pouco o Distillers, em razão principalmente da voz marcante de Brody. As músicas em que isso fica mais evidente são “All Babes Are Wolves” e “Rebellious Palpitations”.

Já “The Walking Dead “ lembra muito Garbage e “Geeking” tem um feeling de Joan Jett, apesar de todos os efeitos que enchem o disco do início ao fim. Aparentemente, a banda esteve mesmo determinada durante o longo processo de produção do trabalho a experimentar bastante com distorções, batidas eletrônicas teclados e backing vocals.

É exatamente isso que unifica músicas tão diversas e possibilita a convivência de faixas pesadas e soturnas como “Cupid”, “A Spectral Suspension” e a assustadora “Distorting A Code”, com canções mais alegres e dançantes como oitentista “Baptized By Fire” e “Sex Bomb”, que lembra Sleater-Kinney e Elastica. Mas a melhor faixa do disco é “Driving Song”, um stoner rock com baixo sujo, ao mesmo tempo pop e roqueira.

Essa união de subgeneros é o que parece definir o Spinnerette, que além de Brody, conta com Tony Bevilacqua (guitarrista da última formação dos Distillers) e quem quer que esteja com eles no momento da gravação ou turnê. Talvez também por isso, Spinnerette é mais uma bela colcha de retalhos de diversas influencias do que algo realmente original. Também não é tão viciante quanto o Distillers era, mas não deixa de ser um álbum divertido e capaz de animar algumas festas de rock por aí.

Coasters and frisbees

Tony Aiex, do blog Tenho mais discos que amigos! fez um post legal sobre o novo álbum do NOFX, esse resenhado aí em baixo. Lá ele detalha com várias fotos todo o conceito-piada-auto-depreciativa dos porta-copos (coasters) e frisbees que permeia o lançamento do CD (Coaster) e do LP (Frisbee) da banda. E tem ainda uma promoção legal que vai sortear um CD extra exclusivo e numerado, além de um podcast falando sobre o lance todo. Vale a pena conferir, só não vale colocar o prêmio em baixo de um copo de bebida.

terça-feira, 16 de junho de 2009

NOFX - Coaster (2009)

Quando sua banda existe a mais tempo do que os Ramones, como fazer para inovar e surpreender os fãs? A resposta do NOFX é não inovar, apenas fazer bem feito. Muito bem feito. É por isso que Coaster, o 11º álbum de estúdio da longa carreira do quarteto é tão bom. É o NOFX que todos conhecem, mostrando aquilo que fazem melhor. Entre hardcores, pop punks, skas e as esquisitices habituais, a banda fez um dos melhores álbuns de sua discografia.

A maior diferença de Coaster para os outros discos da banda lançados nessa década é que ele representa o que o SUM 41 tentou fazer em 2001: all killer, no filler. Ou quase isso. Das 12 faixas do lançamento, apenas “Creeping Out Sara” pode ser considerada dispensável. A letra é bem divertida, daquele jeito cheio de ironia e nonsense que Fat Mike faz tão bem. Mas a música é bem fraca e parece ter sido criada às pressas, só para acompanhar as palavras. E ainda deixa a piada um pouco óbvia demais, lembrando até Mamonas Assassinas.

Mas de forma alguma ela representa o disco como um todo. Se há algum componente que marca o lançamento, são as guitarras metaleiras de El Hefe, ainda mais marcantes que de costume. A faixa de abertura, “We Called It America” já demonstra o potencial de criação do guitarrista, mas é na surreal “Eddie, Bruce And Paul” que isso fica absolutamente claro.

Para quem não pegou as referencias, bizarramente a música conta a história do Iron Maden sob a ótica de Fat Mike e sua trupe. Com vocais alternados entre o vocalista e o guitarrista Melvin e sua voz rasgada, a faixa faz referencia clara ao heavy metal britânico sem deixar de soar como NOFX. Pode parecer encheção de saco, mas novamente a banda mostrou aos canadenses como se faz.

Entre patadas nas religiões organizadas, na política republicana e as letras divertidas sobre drogas e bebidas ou povoadas por amigos da banda, destacam-se “My Orphan Year” e “I Am An Alcoholic”. A primeira, mesmo sem inovar musicalmente, surpreende todos os fãs do NOFX. Trata-se da música mais emo que Fat Mike já escreveu. Supondo-se que seja tudo verdade, o vocalista abre seu coração como nunca fez antes para contar a história da morte de seus pais em 2006. Fica transparente na letra o carinho pela mãe e a mágoa guardada ao longo de toda vida pelo pai, que não esteve presente, mas sem quem a música não existiria.

Já a segunda faixa mistura em doses perfeitas as experiências jazzísticas que El Hefe trouxe à banda com o hardcore típico do quarteto. Diferentemente do que fizeram em outras oportunidades, como no cover de “Straight Edge”, hino do Minor Threat em White Trash, Two Heebs and a Bean, de 1992, aqui os sopros e guitarras dedilhadas não são uma piada. Eles estão realmente a serviço da música, que conta ainda com bons vocais femininos, bem encaixados, assim como o refrão roqueiro, com temática clássica do NOFX.

domingo, 7 de junho de 2009

A moda agora é ficar pelado!

É verdade. Parece que num acesso de pós-modernismo os indies-ravers-electro-rockers resolveram que andar tirando a roupa por grandes cidades do mundo é a nova coisa-legal-para-se-fazer. Nada contra. Se eu tivesse coragem, faria também. Ou não. De qualquer forma, o Blink 182 fez isso 10 anos atrás, mas aquilo era apenas humor imaturo para adolescentes. Agora é "arte"...



terça-feira, 2 de junho de 2009

Rancid - Let The Dominoes Fall (2009)

Se o Rancid tivesse lançado um disco entre o famoso Out Come The Wolves e o multiétnico Life Won’t Wait teria sido esse Let The Dominoes Fall. “East Bay Night”, já avisa logo de cara que este não será um álbum cheio de hardcores e street punks, mas mostrará o quarteto da east bay de San Francisco visitando todos os subgêneros pelos quais já passearam anteriormente sem, no entanto, soarem repetitivos.

O ska e o reggae são marcantes no novo lançamento, deixando as influencias de Clash ainda mais óbvias do que habitualmente. Também muito presentes estão os teclados que caracterizam as músicas menos punks da banda já há algum tempo. “Up To No Good” é muito boa e gruda na cabeça como chiclete. Já “That's Just The Way It Is Now” é quase um dub, com direito a sopros e efeitos para todo lado, mas é “I Ain't Worried” que rouba a cena, com os vocais de todo o trio de frente influenciados por rap e um refrão que lembra bastante “Guns Of Brixton”, do já citado quarteto inglês.

Curiosamente, o lado mais pesado do disco volta ao ótimo Let’s Go, de 1994, ou até mesmo ao primeiro álbum auto-intitulado do quarteto, de 1993. “This Place”, “Locomotive” e a estranha e boa “L.A. River” (com os inconfundíveis vocais do “melhor baixista do mundo”, Matt Freeman) são porradas típicas da banda, que não vão deixar nenhum fã old-school com saudades.

No meio desses extremos encontramos uma ótima coleção de rocks influenciados em diferentes quantidades por punk rock. “Skull City” poderia estar facilmente em um dos discos dos Transplants, finado projeto paralelo do vocalista Tim Armstrong. “Dominoes Fall” e “Last One To Die” são pop até os ossos e em um mundo um pouco melhor do este estariam bombando nas rádios.

Já “Civilian Ways” e “The Highway” marcam o meio e o final do álbum respectivamente e surpreendem. Ambas são faixas acústicas com os vocais de Tim e backing vocals, cuja única referencia na discografia da banda seria a também surpreendente “Arrested In Shanghai”, do disco anterior, Indestructible. A primeira delas usa até bandolins e guitarras slide. Esquisitas e muito boas.

Como nada é perfeito, a presença do também guitarrista, vocalista e compositor Lars Frederiksen é pequena em Let The Dominoes Fall. Apesar de alguns solos de guitarra, ele canta poucas músicas, a maioria dividindo a função com os outros membros, como em “Disconnected”. De qualquer forma, “New Orleans” é tão boa e tão a cara dele que compensa sua participação tímida no conjunto da obra.

Também é uma pena que Tim Armstrong continue um pouco preso nas letras de auto-afirmação do tipo nós-contra-o-mundo. A temática era até compreensível após os incidentes que antecederam a gravação de Indestructible, de 2003. Mas seis anos depois, era de se imaginar que o quarteto já houvesse superado o trauma da morte de familiares e mulheres em fuga. Eles são melhores contanto histórias das ruas e gangsters do que declamando versos cheios de autopiedade. Dispensável, mas nada que tire o brilho de mais um ótimo lançamento do quarteto.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Green Day – 21st Century Breakdown

O lançamento do oitavo disco do Green Day, 21st Century Breakdown, permite dividir a carreira da banda californiana em duas fases: na primeira o trio se firmou como o maior grupo de pop punk do mundo, e na segunda se tornou uma banda de rock que não se restringe ou se encaixa em subgêneros musicais e mistura influencias diversas para criar um som pesado, mas fácil o suficiente para lotar estádios pelo mundo. Ao contrario do que se possa imaginar, a primeira fase da banda é mais relevante ao transpirar energia adolescente e sinceridade, do que a segunda ao tentar abraçar o mundo.

21st Century Breakdown foi claramente concebido como uma continuação do sucesso de cinco anos atrás, American Idiot, e narra (da mesma forma frouxa que o anterior) uma história com personagens desajustados e perdidos nos EUA da Era Bush. Em muitas das faixas, no entanto, fica difícil entender porque a narração do conto foi interrompida por um comentário político-social da própria banda, e como isso se relaciona com a história de Christian e Gloria (nomes com duplo sentido meio óbvio, aliás).

Para piorar, a maneira que o Green Day encontrou para falar sobre tais temas lembra cada vez mais a pregação messiânica de Bono Vox do que o protesto acadêmico do Bad Religion ou a crítica acida e divertida do NOFX.

Musicalmente o álbum é bem melhor, ainda que se sinta a falta dos pop rocks que fizeram a banda famosa mundo afora. Entre as 18 faixas, apenas “Murder City” lembra o antigo Green Day do início ao fim. Mas o trio acertou ao trabalhar melhor as músicas de modo que pareçam canções com várias passagens ao invés de várias canções coladas umas nas outras. Talvez por isso, apenas duas delas ultrapassem os cinco minutos de duração, grindcore perto das músicas de nove minutos de American Idiot.

As melhores músicas do álbum são exatamente as que mais se distanciam do caráter épico pretensioso da ópera rock. A pesada “Christian's Inferno” se sai muito bem experimentando efeitos, distorções e uma pegada mais industrial. Já “Peacemaker” surpreende com suas influencias latinas. Em “Last Of The American Girls”, a banda se dá bem ao incorporar o espírito pop e dançante de Weezer e Fountains of Wayne.

“The Static Age” e “See The Light” também não fazem feio entre as faixas mais típicas da nova fase da banda. Em outro campo musical, “!Viva La Gloria!” e sua irmã “?Viva La Gloria? (Little Girl)” (sim, eram para ser sinais invertidos como em espanhol), misturam pianos e inícios calmos com rocks vigorosos que a banda faz tão bem. A segunda poderia até ser uma das melhores faixas de Warning, de 2000.

21st Century Breakdown escancara ainda as influencias britânicas do compostor Billie Joe. Se na primeira fase da banda, Ramones, Buzzcocks e Husker Du eram referencias nítidas, aqui se percebem melodias típicas dos Beatles, Kinks, The Who e até Queen. A bonita balada “Last Night On Earth” é consequencia direta disso, assim como a faixa título, excessivamente épica e pouco empolgante ao mesmo tempo.

O afastamento proposital do punk rock também permitiu que Billie Joe arriscasse notas e interpretações vocais nunca antes tentadas pelo grupo, como em “21 Guns” e “Before The Lobotomy”, ambas esquecíveis. Já “Horseshoes And Handgrenades”, que abre o terceiro ato da opera rock, deveria ter sido esquecida pela banda. O trio é talentoso e tem história suficiente para escrever músicas melhores do que uma cópia barata de “Main Offender”, dos suecos do The Hives.

Entre altos e baixos, o Green Day produziu mais um bom álbum, que provavelmente venderá outros muitos milhões de cópias e deixará os antigos fãs esperando mais alguns anos por faixas simples e inesquecíveis como “Welcome To Paradise”, “Christy Road”, “Basket Case”, “Walking Contradiction” e “Nice Guys Finish Last”.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Less Than Jake em São Paulo


Era hora das 1500 pessoas que lotavam o local começarem a gritar. Ao som de “Less Than Jake, Less Than Jake…” o quinteto entrou em cena com a música tema de Star Wars ao fundo e mandou logo de cara “Conviction Notice”, de seu último trabalho, o ótimo GNV FLA. Mas se enganou quem achava que a apresentação seria focada no disco. Com cara de best of, o setlist contou com sucessos antigos como (...)

Leia a resenha completa do show dos estadunidenses do Less Than Jake em São Paulo no site da Protons, com direito a mais fotos e comentários sobre as bandas de abertura.

domingo, 5 de abril de 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Gosto não se discute?

A música é uma arte que pode ser aprendida e cultivada. Se alguém não gosta de determinado gênero musical, é preciso primeiro verificar se ele conhece esse gênero. E para conhecer um gênero de música mais elaborado nem sempre é suficiente ouvi-lo só uma ou duas vezes. Há linguagens musicais com sintaxes complexas que só são compreendidas mediante análise, exatamente como acontece com os textos escritos.

Aliás, existe uma nítida relação entre o hábito de ler com os gêneros mais elaborados de música. Só se tem prazer pela leitura quando se entende o que lê. Da mesma forma, a música também requer um esforço grande por parte do ouvinte, para que se possa entender a linguagem, as mensagens e, a partir daí, aprecia-la.

Sendo assim, os gêneros de música mais elaborados como o jazz e a bossa nova, entre outros, muitas vezes não são apreciados pela maioria de pessoas, simplesmente porque elas não os compreendem. É por isso que a música de Tom Jobim e a de Ray Charles podem não ser apreciadas por quem não teve educação musical ou não viveu em ambiente cultural que favorecesse o contato com esses gêneros.

No entanto, qualquer pessoa que não esteja acostumada a ouvir determinada música popular mais sofisticada, ou até mesmo a música erudita ou clássica, pode descobrir a beleza que há nesses gêneros, bastando para isso algum esforço, paciência, além de procurar se livrar de um certo preconceito comum de quem “não ouviu e não gostou”.

Fazer uso da premissa de que “gosto não se discute” para classificar uma obra musical como ruim é, além de simplista, desconhecer que a música apresenta harmonias, melodias, e várias outras questões técnicas que devem sim ser discutidas e compreendidas antes de serem julgadas.

É difícil alguém ouvir o violão e a voz de João Gilberto com atenção, por diversas vezes e em silêncio, e não gostar do que ouviu. Mas não é impossível. Há quem conheça o trabalho dele e não goste, não se identifique. No entanto, deve-se reconhecer a qualidade e a virtuosidade de seus trabalhos. Também há quem não goste da pessoa de João Gilberto, porque nem sempre é fácil separar o artista de sua obra, mas isto é uma outra história.

O que cabe finalmente destacar é que é possível se educar para a música e que a música é uma arte que deve ser cultivada por todos, com enormes benefícios para os indivíduos e para toda a sociedade. 

Eduardo Beraba Villarim

quinta-feira, 26 de março de 2009

O rock-de-jornalista



Há alguns dias, Marco Aurélio Canônico, jornalista da Folha de S. Paulo, perguntou no Blog da Ilustrada porque até sexta-feira passada os ingressos para os dois shows do Radiohead em SP e no Rio não tinham esgotado. Mais especificamente, ele levantou duas hipóteses: Seria por causa do alto preço dos ingressos, ou seria o Radiohead um fenômeno apenas midiático, mas não de público?

A conversa me lembrou o artigo da MTV americana citado no post abaixo sobre o “rock de jornalista”. Não, eu não acho que o Radiohead seja apenas isso. Na verdade, não acho nem que tenha sido um fracasso de público. 30 mil pessoas vendo uma banda de sonoridade tão “difícil” quanto o Radiohead não é um fracasso em lugar nenhum do mundo.

Mas para o bem da discussão, vamos supor que muitos esperavam uma corrida desesperada pelos ingressos, que se esgotariam em poucos dias. Dessa forma, acho sim que R$ 200 é um preço proibitivo para muita gente. Entendo todas as despesas que os produtores tem para trazer uma banda gringa e montar um show desse porte. Ainda assim, muita gente potencialmente interessada simplesmente não tem R$ 200 para gastar em 2 horas de rock.

Isso dito, no mesmo final de semana o Iron Maiden levou 25 mil pessoas para o estádio Mané Garrincha, aqui em Brasília. Estamos falando de uma região metropolitana de 3 milhões de habitantes, contra os 12 milhões do Rio e os 18 milhões de São Paulo. E os preços também não estavam ajudando os metaleiros ingleses. Pessoalmente, curto mais o Radiohead do que a Dama de Ferro, mas é impossível negar que o segundo tem muito mais público do que o primeiro.

Por que então o Radiohead tem muito mais espaço na mídia do que o Iron Maiden? Porque o chamado indie rock aparece quase diariamente nos cadernos de cultura dos jornais brasileiros e o heavy metal ou o punk rock são relativamente ignorados? E por que o rock, ouvido por uma parcela percentualmente pequena do público brasileiro, tem muito mais espaço na mídia do que a MPB, o samba, o forró, o sertanejo ou o axé?

Obviamente não estou falando de programas televisivos de entretenimento, que estão se lixando para o rock, mas de matérias jornalísticas nos jornais e revistas considerados sérios. Como fã de rock, eu gostaria de ler mais e mais sobre meu estilo musical favorito, mas como jornalista, tenho que questionar se é correto pautar os meios de comunicação segundo nossos gostos pessoais.

Por outro lado, o jornalismo musical sempre foi um fenômeno muito atrelado ao rock n roll, desde os anos 60. Também não estou sugerindo que revistas de rock deixem se dedicar ao estilo e abracem o axé, ou o country, no caso das publicações estadunidenses. Mas se tanta gente lota shows de música sertaneja e forró por todo o país, por que não existem revistas e matérias de jornal dedicadas a esse público? Será que simplesmente não há interesse, ou os jornalistas seriam elitistas? Muitas perguntas para um texto só, não é? Alguém aí acha alguma coisa?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Novidades do Green Day, Rancid e Blink 182


Essa aí em cima é a capa do novo disco do Green Day, 21st Century Brakdown, que será lançado em maio. Confesso que achei a imagem mais ou menos. Aparentemente o álbum é dividido em 3 “atos”: Heroes And Cons, Charlatans And Saints e Horseshoes And Handgrenades, com várias músicas cada. Trata-se, portanto, de outra opera rock, mas ao que tudo indica não tem qualquer conexão com o disco anterior da banda, American Idiot.

A revista estadunidense Alternative Press já havia publicado uma matéria com a banda em dezembro do ano passado. Na ocasião, tiveram a oportunidade de escutar algumas das faixas do disco novo, sobre as quais teceram comentários mais ou menos elogiosos. Procurem os scans por aí, vale a pena. Se o Green Day não se perder em suas próprias pretensões, 21st Century Brakdown tem tudo para ser um dos principais lançamentos do ano, mesmo após tanto tempo longe da mídia.

2009, aliás, parece que vai ser bastante agitado para os fãs de pop-punk-rock-hardcore-e-afins. Sem lançar nada desde 2003, o Rancid está terminando as gravações de seu próximo trabalho, que tem produção de Brett Gurewitz, o famoso guitarrista do Bad Religion e dono da Epitaph Records, gravadora que definiu uma geração do rock underground dos EUA. 

Mr Brett já havia produzido o 2º álbum homônimo da banda, em 2000. Na época o trabalho impressionou por ser o mais sujo e rápido do quarteto. Esse novo disco será o primeiro do Rancid sem o baterista Brett Reed, que deixou a banda há alguns anos e foi substituído por Branden Steineckert, que tocava na banda emo The Used.

A outra novidade que está mexendo com os fãs é a volta do Blink 182. O trio anunciou sua volta no último domingo na emtrega dos prêmios Grammy, que todo mundo sabe do que se trata (o Oscar da indústria musical e blá, blá, blá). A banda prometeu novidades para o próximo verão gringo, o que significa provavelmente uma turnê em junho ou julho. Eles também vão gravar outro disco, mas ninguém sabe se sai ainda esse ano. Pouco provável. Nada como uma tragédia pra unir as pessoas, certo? Geoge W Bush sabe bem como funciona.

Mas mau humor a parte, o disco cria grandes espectativas, após a recepção morna aos trabalhos do Angel And Airwaves de Tom DeLonge, e do +44 de Mark Hoppus e Travis Barker. Para mim, o AVA se encaixa perfeitamente naquela onda que falei do Green Day de se perder nas próprias pretensões. O +44 eu acho um pop-indie-punk bem mais honesto e divertido.

Será também curioso ver se abanda vai voltar ao velho som que os consagrou, ou vai dar continuidade às experimentações do último disco, de 2003. Sinceramente, acho que se eles tentarem repetir Enema Of The State, vão se dar mal. Eles não são mais os mesmo, a década também não. Mas espero algo melhor que o disco homônimo, que é bom, mas chato. Aliás, o excesso de expectativas é a primeira batalha que o trio vai ter que ganhar.

O site da MTV americana tem um ótimo artigo escrito pelo jornalista James Montgomery, que conta que foi um grande fã da banda quando adolescente e que esqueceu dos caras quando entrou para a universidade e virou jornalista. Ele queria ouvir um som mais adulto e mergulhou de cabeça no rock-de-jornalista. Mas a volta do Blink deixou o cara nostálgico e ele não consegue se segurar de tanta empolgação e ansiedade. O nome do artigo é “A reunião do Blink 182 vai mudar o mundo?”. São tempos messiânicos nos EUA, mas confesso que a expectativa com os três lançamentos é grande aqui no Rock N Cigarettes também.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

The Loved Ones – Distractions (2009)

O primeiro álbum do Loved Ones é marcado por punk rocks energéticos e relativamente acelerados. Já o segundo, abre espaço para pianos e influencias como Bruce Springsteen e folk rock. Neste novo EP, o quarteto da Philadelphia dá segmento a essa evolução musical, para-doxalmente, com algumas gra-vações antigas.

Entre as seis faixas de Distrac-tions estão três covers e uma música própria, todos b-sides do primeiro disco. Apesar de metade das faixas não ser composição do próprio quarteto, as músicas fazem sentido juntas, já que eles regravaram apenas influencias declaradas para o som da banda.

A faixa-título abre o EP com o mesmo feeling do último lançamento dos caras, assim como a faixa seguinte “Last Call”. Ambas são bons punk rocks mais lentos, com pianos e teclados. Já “Spy Diddley”, gravada nas seções de Keep Your Heart, acelera um pouco as coisas e deixa a dúvida de porque não foi incluída no tracklist do disco.

A segunda parte de Distractions é dedicada aos covers. Curiosamente, o compositor menos conhecido do pacote rende a melhor das três faixas. “Lovers Town Revisited”, de Billy Brag, se encaixa muito bem no conjunto de canções da banda. Mas quando o quarteto abre mão de sua formação punk rock, para apostar apenas no clássico “voz e violão” (ou voz e guitarra), o resultado não é tão impressionante. “Coma Girl”, de Joe Strummer, e “Johnny 99”, de Bruce Springsteen, não tem o mesmo impacto das outras 4 faixas, apesar dos vocais seguros de Dave Hause.

No final, Distractions é apenas o que o nome anuncia: uma boa distração que deve agradar os fãs até que saia o próximo trabalho da banda, ainda sem data de lançamento. Mas não é nem de longe tão bom quanto o último lançamento da banda.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Os Melhores de 2008

Para começar bem 2009, vamos às famosas e inescapáveis listas de melhores do ano. Ao invés de selecionar um número pré-determinado de álbuns, decidi escrever sobre aqueles discos que realmente marcaram meu ano musical, aqueles que acho que vão ficar no meu iPod por mais uns verões. Confira os sete escolhidos:

Accelerate é o melhor lançamento do R.E.M. em muitos anos. Com a “gravação mais curta da carreira” do trio estadunidense, quase todas as músicas do disco são construídas em cima de guitarra, baixo e bateria. Em menos de 35 minutos, o grupo dá seu recado e vai embora. E mostra porque é uma das maiores bandas em atividade.

O primeiro trabalho solo do ex-vocalista do Face To Face une a melancolia do título com programações de bateria (quase) dançantes, que levam o álbum para longe de um clima simplesmente depressivo. O destaque vai para as músicas “Incommunicado” e “Bleeding Out”, mas o disco merece ser ouvido cuidadosamente em sua totalidade.

Float foi o primeiro trabalho do Flogging Molly a dar o destaque necessário a cada um dos muitos instrumentos usados pela banda. O resultado é menos pesado, mas revela as ótimas composições de Dave King. Além disso, o álbum é bom do início ao fim. Não há pontos baixos ou músicas a serem puladas. Isso faz de Float um disco a ser lembrado.

Gaslight Anthem – The ‘59 Sound
A capa de The ‘59 Sound já entrega: apesar ser cria da cena punk de New Jersey, o Gaslight Anthem busca inspiração em outros cantos do rock americano, do conterrâneo Bruce Springsteen ao college rock do Replacements. Da mistura, a banda tira músicas memoráveis como “Great Expectations” e a faixa-título. Sem dúvida a melhor surpresa do ano.

The Loved Ones – Build And Burn
Build And Burn sugere uma transição para o quarteto da Philadelphia. O início do álbum é marcado por punk rocks com vocais rasgados como “Pretty Good Year”, que lembram o som de Hot Water Music e Against Me!. Progressivamente vão entrando os pianos e a distorção vai dando lugar a um feeling sulista que tem seu ápice na ótima “Loisiana”.

The Subways – All Or Nothing
O segundo disco do Subways prova que o rock alternativo dos anos 90 não está completamente esquecido. All Or Nothing soa ao mesmo tempo mais pop e mais pesado que o álbum de estréia da banda. Misturando guitar rock, grunge e um pouco de punk rock e britpop, a música do trio é mais suja, energética e ao mesmo tempo pop, que a de qualquer banda britânica da atualidade. 

Agony and Irony pode não ser o melhor trabalho do Trio, mas tem algumas ótimas músicas, como “In Vein” e “Calling All Skeletons”. Com um som mais pop que nos trabalhos anteriores, o disco também mostra que a banda tem qualidade e personalidade suficientes para sobreviver ao envelhecimento e às mudanças de gravadora.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Vendas de CDs cai, mas downloads pagos batem recorde em 2008

O balanço do ano não foi muito positivo para a industria musical estadunidense. A venda total de álbuns – dado que inclui tanto álbuns físicos quanto virtuais – caiu para aproximadamente 428 milhões de unidades, uma queda de 8,5% em relação aos números de 2007. 

Segundo a Nielsen SoundScan, a venda de álbuns físicos caiu de 450 milhões para 362 milhões, afetando todos os gêneros musicais. A artista country Taylor Swift foi quem teve o melhor resultado em 2008, com 4 milhões de álbuns vendidos, seguida por AC/DC, Lil’ Wayne e Coldplay.

Apesar de não compensar a queda livre dos CDs, as venda digitais bateram recorde no ano que passou. Somente a venda dos álbuns virtuais cresceu 32%, chegando a quase 66 milhões de unidades vendidas. Já as faixas digitais avulsas alcançaram a marca de 1,07 bilhão de unidades, um crescimento de 27%.

Apesar da tendencia de queda, algumas gravadoras estão se adequando à nova realidade. A Atlantic Records, maior vendedora de discos nos EUA em 2008, divulgou que no mês de setembro seu lucro com vendas digitais ultrapassou o lucro com vendas de CDs.

Leonardo Werneck