terça-feira, 27 de novembro de 2007

MxPx - Secret Weapon (2007)

Entre antigos fãs é recorrente a reclamação de que todos crescemos, menos o MxPx. Após assistir o DVD B-Movie, de 2005, fica difícil discordar. Ao ouvir os versos “Goosfrahbah, I’ve got to calm myself down”, as esperanças de que os eternos adolescentes escrevam algo que possa ser citado se vão para sempre. Apesar disso, é injusto dizer que a banda não evoluiu. Talvez o trio não tenha talento para escrever como Greg Graffin (Bad Religion) ou Matt Skiba (Alkaline Trio), mas musicalmente os avanços são inegáveis. Após alguns anos lançando discos de rock radiofônico – algo que fazem muito bem, por sinal – a banda decidiu voltar ao hardcore melódico que os fez famosos. Entretanto, o álbum anterior, Panic, e este Secret Weapon não são meras reedições de seus primeiros trabalhos.

Melodias e instrumentais criativos e empolgantes dão o tom do álbum, perfeito para tardes ensolaradas com os amigos ou a namorada. As guitarras de Tom Wisniewski também merecem destaque. A boa música título abre o disco em alta velocidade, com um solo de guitarra no melhor estilo Bad Religion. “Top of the Charts” e “Punk Rawk Celebrity” mostram o lado mais pop do trio e falam sobre o período mainstream da banda. A crítica à industria musical e ao status cool do punk rock atual não é tão contundente quanto “The Separation of Church and Skate”, do NOFX, mas o MxPx tem a vantagem de já ter estado lá. Além disso, “Punk Rawk Celebrity” passa do hardcore ao piano e sopros com uma desenvoltura espantosa, e “Top of the Charts” produz aquilo que parecia impossível: uma frase digna de ser citada. “From the Bottom of our Hearts to the Top of the Charts” pode não ser a poesia que alguns esperam, mas resume bem a falsidade do punk rock de Fall Out Boy, Simple Plan e afins.

“Contention” representa as raízes hardcore do trio. Um pouco mais melódicas, mas também flertando com um som mais rápido e agressivo, “Shut It Down” e “Drowning” devem fazer a alegria dos mais saudosos. Já “Here's to the Life”, “Biting the Bullet” e “Tightly Wound” lembram mais o trabalho da banda em seus anos de major. Finalmente, mostrando que o Mxpx também olha para frente estão as energéticas e pesadas “Chop Shop” e “Bass So Low”, ambas ótimas. Também merece destaque “You're On Fire”, música que daria um belo single. Além da pérola citada no primeiro parágrafo, repetida várias vezes em “Not Nothing”, apenas “Sad Sad Song” sobra entre as 16 faixas do lançamento. Apesar da boa linha de baixo, a mistureba de vocais quase country, com batidas e backing vocals anos 50 e horríveis na-na-nas, é realmente dispensável. Não dá pra acertar todas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Diablo Swing Orchestra - The Butcher's Ballroom (2007)

Segundo a mitologia, a Diablo Swing Orchestra foi fundada em 1501 na Suécia, onde obteve um sucesso avassalador. Sua música era considerada divina por todos que a ouviam e lotavam os shows da banda. A Igreja, no auge do seu poder, começou a temer o poder da Orchestra e sua ira recaiu sobre os integrantes da banda, que foram perseguidos e mortos. Porém, antes de serem sentenciados à morte por enforcamento, eles fizeram um pacto para que o grupo ressurgisse com seus descendentes muitos anos depois.

Em 2003, os descendentes se reuniram em Estocolmo. Sabendo que o dom musical que os havia sido passado não deveria ficar escondido, eles decidiram mostrar ao mundo aquilo que seus antepassados foram proibidos de mostrar. Infelizmente as músicas da banda original haviam sido confiscadas e queimadas pela Igreja, restando à nova formação compor sua própria música. Annlouice tem uma voz poderosa e ao mesmo tempo angelical, que se mostra perfeita para o estilo da banda. Pontus ficou encarregado de dar um toque contemporâneo à banda com suas influências de dance music. Daniel ficou responsável pelas guitarras e composições e Anders pelo baixo com orientações de funk. A poderosa bateria ficou com Andrea e o cello com Johannes.

“The Balrog Boogie”, a primeira faixa do álbum de estréia The Butcher's Ballroom, mostra um pouco da versatilidade e inovação da Diablo Swing Orchestra. A música tem trompetes revelando influencias claras de swing, guitarras e da bateria mostrando um jazz mais dançante, baixo bem marcado, e os divinos vocais líricos da vocalista Annlouice atingindo tons inimagináveis. Por essa única amostra fica difícil definir um estilo para a banda. A música seguinte, intitulada “Heroines”, continua com o baixo bem marcado acompanhando a bateria, e mostra um pouco mais do caminho em que o CD irá tomar. Guitarras com acordes curtos de metal e trompetes dignos de músicas TexMex.

O instrumental da banda lembra o dos alemães do Haggard com suas guitarras metaleiras e seus instrumentos clássicos, já os vocais lembram os de Floor Jansen, do After Forever, com mais força e graça. Há também ritmos dançantes em algumas músicas, que não te deixam ficar muito tempo sem balançar a cabeça ou tentar cantar junto com os impossíveis vocais de Annlouice. Misturar guitarras de metal, com trompetes de swing, cellos clássicos que parecem retirados de trilhas sonoras de filmes épicos, violões típicos de ritmos latinos, teclados eletrônicos, e vocais dignos de óperas, cantados em latim, italiano e inglês, poderia resultar em uma grande mistureba, mas a banda mostra um grande conhecimento musical para unir todos esses elementos em um som harmonioso. Recomenda-se a audição pelo menos da primeira música. Ninguém merece morrer sem antes ter ouvido a Diablo Swing Orchestra.

por Jeaninne Doe

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Class of '94


“Em 5 de abril de 1994, o homem que trouxe a música underground para a superfície, Kurt Cobain, foi encontrado morto por suicídio com um tiro na cabeça. No mesmo ano, uma banda pouco conhecida da grande São Francisco chamada Green Day lançou Dookie, que vendeu mais de 19 milhões de cópias em todo o mundo. Ainda no mesmo ano, uma banda da grande Los Angeles chamada Offspring lançou Smash, até hoje o disco independente mais vendido em todo o mundo”.

Green Day, Offspring, Rancid, Bad Religion, NOFX, Pennywise, NUFAN, Lagwagon, Blink 182, surf, skate, Warped Tour. Para todos aqueles que uma vez na vida já interessaram por punk rock, vale a pena assistir o teaser do documentário One Nine Nine Four, que conta a história do “nascimento, crescimento e explosão do punk na década de 90”. Em inglês, of course.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

NOFX - They've Actually Gotten Worse Live! (2007)

12 anos após o lançamento de I Heard They Suck Live o NOFX lança mais um álbum ao vivo, novamente gravado durante 3 noites em San Francisco. O som, os gritos da platéia, as piadas politicamente incorretas, o grande numero de palavrões, a suposta bebedeira, tudo está presente novamente. Apesar disso, They've Actually Gotten Worse Live não é uma mera repetição do disco ao vivo anterior. Em 1995 o NOFX vinha na onda do sucesso de bandas como Green Day e Offspring e estava quase estourando após o lançamento de Punk In Drublic, por isso baseava seu setlist nos seus dois últimos (e melhores) álbuns. Agora os caras são uma banda veterana, com milhões de fãs e de músicas, inclusive os tradicionais b-sides, músicas de coletâneas e afins. E escolheram presentear esses fãs mais dedicados.

Com a exceção de “Franco Un-American” e “Stickin’ In My Eye”, nenhuma das 24 faixas do álbum são hits. Estão presentes no lançamento uma série de versões hardcore para músicas acústicas e skas, como “You're Wrong”, “Scavenger Type” e “Whoops I OD'd”, além de uma versão calminha para a porrada “We March To the Beat Of Indifferent Drum”. Também chama atenção a série de 9 músicas curtas (a maioria presente no 45 or 46 Songs...) que, em média, não passam de uns 40 segundos. Pode-se ainda ouvir a participação de Matt do Flogging Molly tocando acordeão em “I, Melvin”, os guitarristas El Hefe e Melvin cantando, e as tradicionais alterações nas letras cantadas pelo vocalista Fat Mike, que geram momentos engraçadíssimos e mostram a irreverência típica da banda. They've Actually Gotten Worse Live definitivamente não é uma boa introdução para o trabalho do NOFX, mas um ótimo presente para os fãs de longa data que vão ter orgasmos ao ouvir “The Longest Line” com um pequeno trecho de “Basket Case” do Green Day inserido no meio, ou “Lori Meyers”, com vocais femininos incluídos.

sábado, 17 de novembro de 2007

Novo vídeo-clipe do Bad Religion

Desde terça-feira pode ser visto no MySpaceTv o segundo vídeo-clipe retirado de New Maps Of Hell, último álbum do Bad Religion. “New Dark Ages”, já foi visto mais 14 mil vezes e dá saudades dos anos 90 e da antiga MTV.

domingo, 11 de novembro de 2007

Autoramas no Pílulas Porão do Rock

A chuva que caiu na capital durante todo o sábado deve ter atrapalhado um pouco, já que o público presente à segunda edição do Pílulas Porão do Rock não foi tão grande quanto poderia se esperar. Nada, porém, que prejudicasse o clima e o andamento dos shows, que começaram por volta da meia-noite com a apresentação do Gramofocas, seguidos por Sapatos Bicolores e Super Stereo Surf. Por volta das 2h30 da madrugada os Autoramas deram início à sua apresentação. Usando bizarras mascaras de luta livre mexicana, o trio começou tocando “Mundo Moderno” e outras duas músicas de seu mais novo álbum Teletransporte.

O som da banda mescla punk rock, surf music, new wave e até jovem guarda, o que gera reações diversas no público, mas empolga a todos, que dançaram, pularam, abriram rodas punk e pagaram moshes. Mesmo animada, a platéia não estava tão participativa, já que poucas palmas, gritos e singalongs foram ouvidos durante a apresentação. Apesar disso, o trio parecia bastante empolgado e mostrou uma apresentação de banda grande, digna de ginásios e afins. A baixista Selma Viera também parece totalmente integrada ao Autoramas, tocando bem seu baixo distorcido e participando das caras, bocas e movimentos ensaiados típicos do trio.

Após o inicio empolgante, a banda começou a alternar canções de todos seus discos, começando por “Eu Era Pop”. Tocaram todos seus hits como “Paciência”, “Fale Mal de Mim”, “Carinha Triste”, “Você Sabe” e “Autodestrição”. O mais surpreendente, no entanto, foram os covers da noite. Enquanto o baterista Bacalhau trocava a caixa destruída de seu kit, o vocalista Gabriel Tomaz começou a cantar Elvis com direito a vários trejeitos do rei. Era só o começo. Para a alegria dos metaleiros presentes, durante o bis o trio tocou “Seek and Destroy” do Metallica e o hino surf-punk “Surfin’ Bird”, fazendo um final de show inusitado e memorável. Gabriel parece realmente ter prazer de tocar na cidade e até reclamou que ninguém tinha pedido para a banda tocar Little Quail (And The Mad Birds, sua antiga banda). Ao final, o cara ainda iria discotecar, mas poucos ficaram para ver o dia amanhecer no Arena.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Quanto vale In Rainbows?


In Rainbows, último disco do Radiohead que foi lançado na web com o inovador sistema pague quanto quiser, começa a mostrar seus resultados. Durante o mês de outubro, 1,2 milhão de fãs baixaram o álbum do site da banda. 38% deles pagaram algo pela aquisição e o valor médio pago por essa fatia dos fãs foi US$ 6 (cerca de R$ 10).

Pode-se ver esses números por dois lados. 62% dos fãs dos ingleses não está mais disposto a pagar por música (por gravações, pelo menos). Um fato que pode levantar uma série de especulações sobre a revolução cultural em curso, que afeta diretamente as gravadoras, aquelas empresas que vendem discos de plástico.

Pode-se também fazer as contas. Em outubro, US$ 2.736.000 (R$ 4.800.000, aproximadamente) caíram na conta da banda, sem qualquer intermediário. Descontando os custos da produção do álbum, manutenção do site, taxa do cartão de crédito, etc (vamos considerar absurdos 800 mil reais), no último mês cada membro da banda colocou no bolso outros 800 mil reais. Valeu a pena? Antes de responder, considere que apenas cerca de US$ 0,50 da venda de cada CD físico (lançado e distribuído por uma gravadora major) vai para a banda.

Claro que essa estratégia não funcionaria tão bem para bandas iniciantes e nem para artistas com fãs menos dedicados que os do Radiohead, mas bandas como o CSS fizeram sua carreira internacional (a maior de uma banda brasileira desde o Seputulra) baseada na difusão maciça de suas músicas pela web. Estão enchendo os bolsos com apresentações lotadas por todo o mundo. Não sou do tempo do vinil, mas ainda adoro o cheiro do encarte de um CD recém comprado. No entanto, a revolução em curso é inegável. O futuro é agora.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

In Jello we trust

É largamente difundido que Jello Biafra, ex-vocalista da banda punk Dead Kennedys, concorreu a prefeitura de São Francisco em 1979 e não se saiu de todo mal. Menos conhecida é sua candidatura ao senado norte-americano nas eleições de 2000, aquelas que colocaram George Bush na Casa Branca. O que Biafra faria se fosse eleito presidente dos EUA? No último final de semana o cara respondeu essa indagação feita pelo jornal britanico The Guardian. Você pode ler a versão original (em inglês) aqui e a matéria feita por Carlos Albuquerque, jornalista d’O Globo, aqui. Alguém aí votaria em Jello?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Tim Volta: a noite de Bjork no Tim Festival carioca



















Com um pouco atraso Anthony and the Johnsons inauguraram o palco da Tim Volta. Infelizmente, o som belo e delicado do grupo foi prejudicado pela qualidade de som. O violoncelo mal podia ser ouvido e o piano levou algumas músicas para conseguir fazer parte dos arranjos. Aparentemente a equipe do festival não tinha muita noção de como equalizar instrumentos essencialmente acústicos como violinos, violoncelos e até mesmo um piano. Talvez o local ideal para uma apresentação do grupo realmente fosse um teatro pequeno com cadeiras como foi em São Paulo. Mesmo com o todo o seu apelo pop, a acústica ideal para este grupo é a de uma apresentação de música de câmara.


Antony Hegarty sorria muito para a platéia e fazia comentários bem humorados o que dava impressão que ele não tinha noção de como o som da sua banda estava sendo escutado ao longo da tenda. A beleza quase etérea das músicas e Anthony chegaram a se tornar arrastada após a primeira meia hora de show e a platéia foi gradativamente perdendo o interesse e começando a conversar, para o desespero dos fãs de Anthony que em vão pediam silêncio. Nem mesmo o cover de Candy says do Velvet Underground funcionou muito bem no final do show.


Após Anthony deixar o palco, veio a espera pela principal atração da noite, a islandesa Bjork Guðmundsdóttir. O palco de Bjork era tão curioso que a espera pareceu muito mais curta do que realmente foi. Bandeiras com brasões medievais dividiam espaço com sintetizadores e laptops e muitos, muitos microfones. O show começou com a introdução do grupo de sopros islandês Wonder Brass, que entraram no palco marchando em fila e vestidas como guerreiras nórdicas carregando bandeiras com brasões às costas. As meninas, que também foram um competente grupo de backing vocals, contribuíram para o clima onírico do show com a sua quase surreal beleza nórdica. Após o Wonder Brass se posicionar uma saltitante Bjork entra ao som da contagiante batida de Earth Intruders. Bjork ao vivo é muito mais linda e simpática do que qualquer meio de comunicação possa fazer parecer. Nem dá pra imaginar que a aquela mulher tão pequena anda agredindo repórteres mundo afora. A cantora queria fazer do seu show um espetáculo e conseguiu. Os canhões de laser desenhando no teto ou refletidos em espelhos para formar polígonos impressionaram, mas o que mais chamou atenção foi a quase alienígena reactable, uma mesa de luz que é tocada pelo movimento de pedras com runas em sua superfície. O instrumento um tanto esquisito, meio tradicional, meio futurista é uma metáfora perfeita para a cantora. Com uma seqüência que incluiu hyperbalad, miss you, army of me e pluto Bjork terminou a sua apresentação transformando a tenda numa grande festa eletrônica encerrada por um bis com declare independence com direito a chuva de papel picado. Após a apresentação a sensação era de que a festival abriu com o seu clímax, o que para boa parte das pessoas naquela tenda não ficou muito longe da verdade.