terça-feira, 14 de agosto de 2018

Os melhores álbuns de 2017

2017 passou rápido e como já é costume, perdi o lançamento de alguns dos melhores discos do ano, mas ao longo dos meses fui, aos poucos, descobrindo os novos sons de artistas legais, novatos e veteranos. Para começar, nesse ano, algumas bandas bem estabelecidas das quais eu gosto bastante lançaram álbuns bastante esquecíveis. O Foo Fighters, por exemplo, gravou Concrete and Gold, que deveria ser uma volta à simplicidade após os exageros do chato disco conceitual anterior, Sonic Highways. Nah. Ouvi duas vezes e desisti. Não há nada péssimo no disco, mas também não há nenhuma razão para ouvi-lo. Quase tudo ali, eles já fizeram bem melhor anteriormente. E as poucas novidades no som da banda erraram o alvo. Uma pena.

Algo parecido aconteceu com o Flogging Molly, que lançou Life Is Good em julho. Para ser justo, ouvi o disco bem mais do que duas vezes, mas ainda assim não fiquei com as músicas ou letras na cabeça e quando sinto vontade de ouvir a banda não penso nesse álbum. O grupo continua se aproximando cada vez mais de um folk irlandês tradicional e deixando o rock de lado. Isso não é necessariamente ruim e eu sempre gostei do lado mais acústico do quinteto, mas dessa vez não funcionou para mim.


Já outras bandas veteranas laçaram discos muito bons. O Hot Water Music, por exemplo, gravou Light It Up, que conta com muitas composições de Chuck Ragan e poucas de Chris Wollard. O som do álbum não fica muito distante daquele do disco anterior, o bom Exister. Algumas músicas mais rápidas, punk rock, outras mais lentas mas ainda assim pesadas e empolgantes, implorando por singalongs em apresentações ao vivo, e outras ainda um pouco mais próximas do trabalho solo de Ragan, mas com guitarras elétricas e produção roqueira. Nada inesperado ou fantástico, mas ainda assim bem legal.

Já o Rancid lançou Trouble Maker, que é muito melhor que seu trabalho anterior, o esquecível Honor Is All We Know. O disco tem uma urgência surpreendente. Há uns bons anos os vocais de Tim Armstrong não soavam tão fortes e a banda ainda incorporou o som Oi! que Lars Frederiksen vem fazendo no seu trabalho paralelo, Old Firm Casuals, de forma fluida no som já tradicional do Rancid. As letras também melhoraram um tanto, especialmente em Telegraph Avenue e I Kept A Promisse, lembrando o jeito que Tim escrevia nos três primeiro discos da banda. Dessa vez, apenas um ska marca presença no tracklist, a boa e divertida Where I’m Going, cantada por Lars. Outros destaques são Farewell Lola Blue, Bovver Rock N Roll e Say Goodbye To Our Heroes. A única coisa que falta para que esse álbum seja um clássico é o zeitgeist, mas isso não é culpa do Rancid, que não tem o poder de fazer o tempo voltar. Tudo que eles podem fazer é continuar lançado belos discos como esse.

Ainda entre as bandas veteranas, o Rainer Maria lançou seu álbum de retorno, S/T. Confesso não conhecer bem o trabalho da banda, cujo último disco havia sido lançado em 2006. Aparentemente, essa nova encarnação do trio produz um som um pouco mais lento, mas mais pesado, com guitarras sujas e distorções quase shoegaze, em certos momentos. De qualquer forma, S/T é um belo álbum, que por vezes lembra o som mais recente do Sleater-Kinney, com vocais altos, às vezes quase gritados, e um instrumental que vai do etéreo ao angular. Influencias de The Cure e Placebo também podem ser ouvidas entre as 9 músicas que somam pouco mais de meia hora. Bem legal.


Entre bandas e artistas mais novos (pelo menos para mim) também foram lançados vários álbuns legais. O melhor dele é, provavelmente, Losing, segundo trabalho do Bully. A banda tem um som calcado fortemente na virada dos anos 80 para os 90. Pense em Nirvana, Smashing Pumpkins, Sonic Youth, Dinosaur Jr., Hole e Veruca Salt. Os vocais de Alicia Bognanno vão de doces e melódicos para gritos emotivos em menos de um segundo e o instrumental a acompanha, abusando da distorção e da dinâmica start/stop tão característica de bandas da época. Losing talvez seja um pouco menos pesado que o primeiro álbum do trio, mas é tão bom quanto. Destaque para a faixa Kills To Be Resistant. Melhor descoberta do ano.

Outra boa descoberta foi a colaboração entre os singers/songwritters Courtney Barnnet e Kurt Ville, Lotta Sea Lice. Ambos tem um trabalho próprio já consolidado e interessante, mas a parceria caiu como uma luva, combinando vozes e melodias para alcançar um som que é mais do que a soma das partes. As duas músicas de trabalho, Over Everything e Continental Breakfast são excelentes e bem superiores ao restante das faixas, que não fazem feio, mas não empolgam tanto.

Outro disco com algumas músicas ótimas e outras meio esquecíveis é After The Paty, do Menzingers. Tellin’ Lies, Lookers, Bad Catholics e a música título são muito boas e tem letras interessantes, mas o restante do disco não chama tanto a atenção e no final fica a impressão de que a banda está se repetindo um pouco. Ainda assim é um bom álbum de uma boa banda.

Ainda no território do chamado orgcore, os canadenses do Deforesters lançaram um belo álbum intitulado Leonard. O som da banda lembra Loved Ones, Red City Radio, Nothington e Timeshares. Não há muita novidade aqui, mas sobram instrumentais empolgantes e refrões para serem cantados a plenos pulmões. Para quem gosta do estilo como eu, vale muito a pena conferir. Com uma pegada parecida, mas um tanto mais agressiva, o 88 Fingers Louie lançou um novo disco após 18 anos sem novidades. Variando do pop punk ao hardcore, Thank You For Being A Friend te joga imediatamente para uma sessão de skate no meio dos anos 90. HC melódico de ótima qualidade para tardes ensolaradas.

Ainda mais ensolarado é Boxing The Moonlight, dos americanos do Mister Heavenly. Com influencias muito diversas que vão de rockabilly e arena rock até funk e hip hop, o disco é um ótimo exemplo de como música pop pode ser interessante. Mas confesso não ter ouvido o álbum com a atenção necessária para fazer observações mais aprofundadas. Também ficou faltando conferir o novo disco do Slowdive, que retornou à cena musical com seu som shoegaze bem anos 90 após  22 anos parados. Nessa era de acesso infinito à informação e produtos culturais, é humanamente impossível prestar atenção em tudo que se gostaria, infelizmente. Quem sabe em 2018?