quinta-feira, 26 de março de 2009

O rock-de-jornalista



Há alguns dias, Marco Aurélio Canônico, jornalista da Folha de S. Paulo, perguntou no Blog da Ilustrada porque até sexta-feira passada os ingressos para os dois shows do Radiohead em SP e no Rio não tinham esgotado. Mais especificamente, ele levantou duas hipóteses: Seria por causa do alto preço dos ingressos, ou seria o Radiohead um fenômeno apenas midiático, mas não de público?

A conversa me lembrou o artigo da MTV americana citado no post abaixo sobre o “rock de jornalista”. Não, eu não acho que o Radiohead seja apenas isso. Na verdade, não acho nem que tenha sido um fracasso de público. 30 mil pessoas vendo uma banda de sonoridade tão “difícil” quanto o Radiohead não é um fracasso em lugar nenhum do mundo.

Mas para o bem da discussão, vamos supor que muitos esperavam uma corrida desesperada pelos ingressos, que se esgotariam em poucos dias. Dessa forma, acho sim que R$ 200 é um preço proibitivo para muita gente. Entendo todas as despesas que os produtores tem para trazer uma banda gringa e montar um show desse porte. Ainda assim, muita gente potencialmente interessada simplesmente não tem R$ 200 para gastar em 2 horas de rock.

Isso dito, no mesmo final de semana o Iron Maiden levou 25 mil pessoas para o estádio Mané Garrincha, aqui em Brasília. Estamos falando de uma região metropolitana de 3 milhões de habitantes, contra os 12 milhões do Rio e os 18 milhões de São Paulo. E os preços também não estavam ajudando os metaleiros ingleses. Pessoalmente, curto mais o Radiohead do que a Dama de Ferro, mas é impossível negar que o segundo tem muito mais público do que o primeiro.

Por que então o Radiohead tem muito mais espaço na mídia do que o Iron Maiden? Porque o chamado indie rock aparece quase diariamente nos cadernos de cultura dos jornais brasileiros e o heavy metal ou o punk rock são relativamente ignorados? E por que o rock, ouvido por uma parcela percentualmente pequena do público brasileiro, tem muito mais espaço na mídia do que a MPB, o samba, o forró, o sertanejo ou o axé?

Obviamente não estou falando de programas televisivos de entretenimento, que estão se lixando para o rock, mas de matérias jornalísticas nos jornais e revistas considerados sérios. Como fã de rock, eu gostaria de ler mais e mais sobre meu estilo musical favorito, mas como jornalista, tenho que questionar se é correto pautar os meios de comunicação segundo nossos gostos pessoais.

Por outro lado, o jornalismo musical sempre foi um fenômeno muito atrelado ao rock n roll, desde os anos 60. Também não estou sugerindo que revistas de rock deixem se dedicar ao estilo e abracem o axé, ou o country, no caso das publicações estadunidenses. Mas se tanta gente lota shows de música sertaneja e forró por todo o país, por que não existem revistas e matérias de jornal dedicadas a esse público? Será que simplesmente não há interesse, ou os jornalistas seriam elitistas? Muitas perguntas para um texto só, não é? Alguém aí acha alguma coisa?