quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Os melhores álbuns de 2016

2016 passou, muitos músicos famosos morreram, e continuo envelhecendo cada vez mais distante da cena roqueira local e cada vez menos antenado nas novidades internacionais. Ainda assim, alguns bons álbuns passaram pelos meus ouvidos nesse ano. Segue então uma lista dos melhores lançamentos do ano. E dos não tão memoráveis também.

Nessa segunda categoria se encaixam discos como Chemical Miracle, da banda australiana Trophy Eyes. Misturando pop punk melancólico com uma gritaria melódica que vai do triste ao raivoso com letras depreciativas, o álbum não é ótimo, mas é interessante, principalmente quando encontra um som quase onírico mas ainda assim agressivo.

Com uma atmosfera mais antiga, a banda californiana Kicker lançou Rendered Obsolete, um disco de punk rock clássico e hardcore britânico, quadradão, mas legal de ouvir. Os vocais rasgados e as letras sobre bebidas complementam o clima early 80's do disco.

Um pouco mais acima na costa oeste americana, o Noi!se lançou The Real Enemy. Apesar das boas participações dos vocalistas Al Barr, do Dropkick Murphy's e Aimee Allen, dos Interrupters, o disco da banda de Seattle nunca chega a convencer. É legalzinho enquanto está tocando, mas não te faz querer dar play de novo.

Também de Seattle, o The Exquisites lançou seu segundo disco, Home. A banda mistura um pouco de Timeshares, Hold Steady e até pitadas de Dinosaur Jr para conseguir um som sujinho, mas bastante melódico.

Um pouco mais pesado, mas ainda circulando entre o rock alternativo e o punk, Patch The Sky é o novo trabalho do veterano Bob Mould, ex-guitarrista e vocalista do Husker Du e do Sugar. O disco não impressiona e não traz muita novidade, mas é surpreendentemente pesado e energético para um senhor de meia idade. Vale a pena dar uma ouvida.


Os novaiorquinos do Parquet Courts lançaram Human Performance, seu quarto trabalho. A banda continua navegando entre post-punk, garage rock e indie, com influencias de Wire e Pavement. Quem pensou em The Rakes acertou.

Também de NYC, o MakeWar lançou Developing A Theory Of Integrity, com um som que lembra Lawrence Arms e outras bandas recentes de orgcore, mas que infelizmente parece nunca sair da terceira marcha. É legalzinho, mas falta algo para ser realmente bom e empolgante.

Vale ainda lembrar de We Disappear, o bom disco lançado pelo The Thermals. O trio de Portland faz um indie rock com guitarras bem destacadas, que lembra Guided By Voices, mas também se aventura em águas mais escuras onde navega o Editors, e em águas mais cristalinas, de bandas como Future Islands. Pena que os vocais declamatórios soam exagerados e o resultado final um pouco esquecível.

Em uma clima mais garage-punk, os canadenses do Dirty Nil lançaram Higher Power. O disco é sujo e energético, mas a maioria das músicas é esquecida rapidamente, à exceção de 'Zombie Eyed', a melhor canção do trio de Ontario.

Um pouco a leste, na província canadense de New Brunswick, o Right Shitty lançou um álbum bem barulhento e gritado. Bachelor of Arts é o disco de estréia do quarteto e, apesar de não encantar, traz a ótima 'Best Buzz', uma das melhores músicas do ano.

Entre os lançamentos mais esperados, o Dead To Me soltou um EP com uma faixa ótima e duas esquecíveis. Não dá para colocar I Wanna Die In Los Angeles entre os melhores discos do ano, mas a faixa-título é sem dúvidas uma das melhores músicas de 2016. A volta de Jack Dalrymple às composições e vocais também dá a esperança que um bom full-length deve sair em 2017.

Já o Against Me! lançou o sem graça Shape Shift With Me, que não chama atenção sob nenhum aspecto e deve ser esquecido no meio da ótima discografia da banda da Flórida.

No Rio de Janeiro, O Zander lançou um disco legal, mas meio pálido em comparação com o anterior, o ótimo Brasa, de 2010. Todas as características do som da banda estão lá, mas Flamboyant parece ter sido feito com um pouco preguiça, sem muito tesão.

Os veteranos do NOFX decepcionaram um pouco com um álbum muito irregular. First Ditch Effort tem músicas ótimas como 'Six Years On Dope', 'I Don't Like Me Anymore', e 'I'm A Transvest-lite', mas o disco acelera e freia vezes demais e nunca encaixa uma sequencia satisfatória de faixas. O excesso de teclados, de introduções esquisitas, e de duração e sentimentalismo das últimas faixas, 'I'm So Sorry Tony' e 'Generation Z' também não ajuda.

Da mesma forma, o Green Day lançou o decepcionante Revolution Radio. Algumas faixas soam bem legais, como 'Bang Bang', 'Revolution Radio', 'Youngblood' e 'Too Dumb To Die', mas mesmo nelas as letras-colagem muito fracas incomodam. A mesma teatralidade e falta de coesão que prejudicou 21st Century Breakdown atrapalha o álbum, que não flui direito, com baladas demais e produção excessiva. Uma pena. 

Já entre os lançamentos que provavelmente ainda serão ouvidos daqui há alguns anos estão:

Get Dead - Honesty Lives Elsewhere
Punk rock melódico de primeira, com vocais rasgados, instrumental mais limpinho, mas não produzido demais, e uma leve influencia country em algumas músicas são os ingredientes desse ótimo disco. O Get Dead não é das bandas mais valorizadas do cast da Fat Wreck Chords, mas acertou em cheio com esse lançamento. As melodias que chamam a atenção e grudam na cabeça sem perderem a agressividade são o que faz o ouvinte querer deixar o álbum no repeat. 'Dyin' Is Thirsty Work', 'Keep Rowing, Stupid', e 'She's A Problem' são os destaques. Quem gostou de 'Here, Under Protest' do Swingin' Utters deve curtir esse.

Down Memory Lane - Recycled Punk Rockers
O EP dessa banda franco-canadense transporta instantaneamente o ouvinte de volta para o anos 90, trazendo o som de bandas como Pulley e Millencolin à memória. São apenas 5 músicas, todas em inglês, mas banda de Montreal não precisa de mais do que 17 minutos para conquistar os fãs do estilo. A faixa de maior destaque é 'Angel Without Wings', que conta com um breve backing vocal feminino.

Brutal Youth - Sanguine
Terceiro lançamento da banda canadense de hardcore, Sanguine é rápido, pesado, raivoso e ainda assim melódico, mesmo que aos berros. É verdade que de vez em quando eles desaceleram um pouco, como em 'The King', 'Rogue Thoughts' e 'Depression', que se destacam das outras faixas pelo simples contraste com toda a agressividade do restante do disco. No entanto, é exatamente essa energia e velocidade quase fora de controle que mais impressionam no álbum, que conta com ótimas gravação e produção sem soar limpo demais. Para fãs de hardcore americano old school e NYHC.

Culture Abuse - Peach
Primeiro full-length dessa banda de San Francisco impressiona pela energia e a mistura em doses quase perfeitas de garage-punk, power-pop e um pouquinho de grunge. A gravação suja e os efeitos sobre os vocais só acrescentam ao som da banda, criando uma atmosfera interessante e evitando que o disco fique excessivamente radio-friendly, mesmo quando o ritmo diminui e outros instrumentos menos roqueiros se somam às guitarras. O single 'Dream On' é uma das músicas mais empolgantes do ano. Ótima surpresa.

Basement - Promise Everything
Após o lançarem o ótimo Colourmeinkindness em 2012 e entrarem em hiato logo depois, as expectativas dos fãs para esse álbum de retorno da banda inglesa eram altas, e eles não decepcionaram. Promise Everything é um pouco mais pop que o disco anterior, mas também tem seu lado sujo em algumas músicas, com guitarras mais destacadas e vocais mais agressivos. Mesmo nesse momentos, as melodias melancólicas e o clima britânico estão sempre presentes, fazendo o disco soar alegre e triste ao mesmo tempo. Destaque para as ótimas 'Blinded Bye', 'Submission' e 'Promise Everything'.

Violent Soho - Waco
Decididamente mais calmo que os discos anteriores da banda australiana, Waco ainda é pesado e energético o suficiente para empolgar. O clima noventista, que lembra Smashing Pumpkins e Mudhoney, também ainda pode ser encontrado, com os vocais rasgados, os gritos, os riffs distorcidos e sujos, e a alternância de momentos calmos com explosivos. Deixe seu cabelo crescer, pegue uma camisa de flanela e vá ouvir 'Blanket', 'Like Soda' e 'Evergreen' bem alto no seu walkman.

Face To Face - Protection
2016 foi o ano de várias bandas veteranas voltarem a lançar bons álbuns. Logo em março, o Face To Face nos presenteou com um disco bem legal, com um som ao mesmo tempo atual e reverente aos saudosos anos 90. 'Bent But Not Broken' e 'Double Crossed' são os destaques. A vontade é curtir as ótimas melodias e o baixo de Scott Shiflett em cima de um skate em uma tarde ensolada. Ou seja, Punk californiano noventista de primeira.

Bouncing Souls - Simplicity
Simplicity consegue misturar muito bem as melodias e o apelo pop dos últimos álbuns do quarteto de New Jersey com a energia, ritmo e os singalongs dos seus trabalhos mais famosos da virada dos anos 90 para os anos 00. O ótimo single 'Writting On The Wall' é uma das canções mais empolgantes da banda em muito tempo. Já o lado mais calmo do trabalho, de músicas como 'Satellite' e 'Gravity', não fica devendo nada, com seu clima romântico e analogias cósmicas.

Descendents - Hypercaffium Spazzinate
Os pais do pop punk não-ramônico voltaram com um disco quase tão bom quanto o clássico Everything Sucks, de 1996. Impossível não querer cantar junto com as letras inteligentes e engraçadas de Milo. Se por um lado o álbum não traz muita novidade ao som da banda, por outro consegue mesclar com perfeição todas suas facetas. Ah, se o Green Day pudesse fazer algo parecido... Os destaques são 'On Paper', a divertidíssima 'No Fat Burger', a pop 'Smile', e 'Spineless And Scarlet Red' com influencias de Social Distortion.

Blink 182 - California

Em meio às bandas já veteranas que lançaram material bom nesse ano, o Blink 182 foi a maior surpresa. Muito pouca gente ainda esperava alguma coisa interessante vinda do trio, mas a saída de Tom DeLonge e a entrada de Matt Skiba em seu lugar revitalizou o som dos caras. É verdade que muito do peso que Tom trazia aos trabalhos mais recentes do Blink foi embora com ele, mas o ego e os vocais cada vez mais horríveis do guitarrista também não estão mais lá, o que já é um grande ponto positivo. Na verdade, esse é o trabalho mais uniforme da banda desde o disco de 2001, já que o lado mais pop de Skiba (mais evidente em seus projetos paralelos do que no Alkaline Trio) casa muito bem com as composições mais radiofônicas de Mark Hoppus, já mostradas no bom disco do +44. Sem a censura de Tom no caminho, muitas das músicas de California prestam homenagem ao pop punk que a banda fazia nos anos 90, ainda que de uma forma mais limpinha. Até as faixas-piada estão de volta, mas sem grandes exageros escatológicos. 'Built This Pool' e 'Brohemian Rhapsody' têm menos de 30 segundos, mas são divertidas de forma inversamente proporcional à sua duração. 'Cynical', 'San Diego', 'No Future', e 'She's Out Of Her Mind' também são muito boas, ainda que às vezes as letras deixem um tanto a desejar. No geral, mesmo durante as poucas baladas, California é pop, divertido e despretensioso como Blink 182 deve ser.