quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Zander - Brasa (2010)

Apenas dois anos após se juntarem, os cariocas do Zander lançaram este mês seu primeiro trabalho longo, Brasa. A gravação pode parecer apresada, mas se justifica pela experiência do quinteto no cenário underground brasileiro. O vocalista e compositor Gabriel Zander, que dá nome à banda, é mais conhecido como Bil e fez parte de duas aclamadas bandas de hardcore, o Noção de Nada e o Deluxe Trio. Outros membros da banda fazem ou faziam parte de grupos como Heffer e Dead Fish. Também por isso, os caras nem se preocuparam em buscar um produtor ou uma gravadora e partiram imediatamente para dois EPs e esse álbum, lançado pela Manifesto Discos, de propriedade de alguns integrantes da banda, assim como o estúdio SuperFuzz, onde aconteceram as gravações.

O espírito independente também se reflete no som do Zander, que não se restringe ao hardcore, passeando pelo post-hardcore, emocore, hard rock e até indie rock. Curiosamente, Brasa é menos ousado musicalmente do que os dois EPs anteriores. Se em Em Construção, de 2008, a banda atirava para vários lados, aqui eles se mantém em território conhecido. Outro fator que chama atenção de cara são os vocais de Bil, um pouco mais limpos e menos roucos do que nos EPs ou em suas bandas anteriores. Isso, por si só, dá um feeling levemente pop às músicas, sem tirar delas a qualidade ou a energia. O único porém é que o álbum demora um pouco para esquentar. Se as primeiras faixas são legais, a coisa só começa mesmo a pegar fogo a partir da quarta música, "Todos os Dias".

Entre as 11 faixas que compõem o disco, destacam-se as energéticas "Motim" e "Humaitá", a balada "Meia Noite", e "Sunglasses", a primeira música em inglês do quinteto. As primeiras têm uma leve influência de hard rock, como "Pólvora", melhor faixa do EP de 2008. "Meia Noite" lembra algumas músicas do Deluxe Trio e explora bem a melodia mais pop e as guitarras pesadas e bem trabalhadas. Já "Sunglasses" é um bom emocore noventista que não faria feio em uma coletânea da famosa gravadora estadunidense Jade Tree.

Também é interessante notar como Bil consegue integrar com naturalidade as letras em português às melodias corridas do hardcore, algo em que muitas bandas nacionais não têm tanto sucesso. As palavras nunca soam como traduções de letras em inglês e a temática é claramente brasileira (e carioca) sem nunca parecer forçada. A banda não busca em nenhum lugar sua "brasilidade" ou tenta mesclar regionalismos ao seu som. O Zander é simplesmente uma banda de hardcore brasileiro. Será interessante conferir a evolução dos caras em seus próximos trabalhos e ver se Bil se mantém coerente ao que canta em "Todos os Dias": "Vale tudo que não seja nos repetir".

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