segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Porão do Rock 2010

O que você está prestes a ler não é uma resenha propriamente dita da edição 2010 do festival Porão do Rock. Trata-se mais de um relato informal opinativo deste blogueiro, sem a intenção de precisar números, setlists ou de falar sobre todas as apresentações da noite de 11 de setembro.

Principal evento roqueiro da capital federal, o Porão do Rock chega a sua 12ª edição cheio de dúvidas em relação ao seu futuro e envolto em críticas, como sempre foi. Desde sua concepção, o festival tem conhecidos defeitos, sempre apontados de acordo com as expectativas e gostos de cada grupo de amantes do rock. Não seria diferente desta vez. Apesar disso, o Porão segue atraindo uma multidão de fãs do estilo e seus subgêneros ano após ano. Assim como havia acontecido em 2002, a edição 2010 do Porão do Rock foi realizada em apenas um dia. Assim como há oito anos atrás, foi exaustivo tentar acompanhar o festival de sua abertura até o encerramento, com suas 33 atrações. A decisão supostamente foi tomada pela falta de patrocínio que inviabilizaria o acontecimento do evento em dois dias. A solução foi então a colocação de três palcos com shows simultâneos dentro e fora do ginásio esportivo Nilson Nelson.

Dentro do ginásio foi montado o palco GTR, dedicado ao heavy metal e todos seus subgêneros. Nesse palco, assisti apenas a uma parte da apresentação das meninas do Estamira, banda vencedora de uma das seletivas realizadas previamente ao evento. O quinteto parecia muito seguro e confortável no palco e, aparentemente, já está construindo uma boa base de fãs no DF. Ainda se apresentaram lá grandes atrações nacionais, como André Matos, Korzus e Musica Diablo. Do lado de fora, estavam o Palco Pílulas, dedicado ao punk rock, rockabilly e outros estilos de rock pesado, e o Palco Chilli Beans, com atrações mais variadas de indie rock, pop rock e até hip-hop. Esse último localizava-se ao lado da entrada e parece ter se beneficiado um pouco disso. A apresentação dos mineiros do Pato Fu estava bem cheia e os estadunidenses do She Wants Revenge tiveram boa aceitação do público que já começava a minguar quase às 3h da manhã.

A programação ainda não estava nem perto de terminar, mas o excesso de atrações e o clássico (e desrespeitoso) atraso na abertura dos portões já começava a vencer o público. A arena já se estava mais vazia do que algumas horas antes e muitas pessoas eram vistas pelo chão, namorando, dormindo ou vomitando. A última atração da noite (os paulistanos do Musica Diablo) deveria entrar no Palco GTR às 3h10, mas quando esse blogueiro deixou o festival, por volta das 4h30, os cariocas do Gangrena Gasosa, penúltima atração dentro do ginásio, ainda se apresentavam. No Palco Chilli Beans, a situação era ainda pior e a penúltima banda, os candangos do Enema Noise, ainda se preparava para subir ao palco. Para piorar a situação, o Palco Pílulas correu atrás da 1h30 de atraso inicial e ao final da noite havia alcançado o horário previamente divulgado, o que fez com que as duas maiores bandas internacionais do festival, que deveriam se apresentar com quase duas horas de diferença, caíssem exatamente no mesmo horário. Desorganização total.

Por volta das 2h, o duo pós-punk She Wants Revenge subiu ao palco, empurrando a apresentação dos capixabas do Zémaria para mais tarde. Abrindo e fechando a apresentação, a banda, que ao vivo é um quarteto, tocou os maiores hits de seu primeiro álbum. No início, mandaram "Red Flags And Long Nights" e "These Things". Na saída, "Out Of Control" e "Tear You Apart", cantada com empolgação pela razoável parcela do público que conhecia a banda. Mostraram ainda duas boas músicas novas que devem estar em seu novo trabalho e um ótimo cover desacelerado de "Wave Of Mutilation", dos Pixies, que se encaixou muito bem no repertório dos californianos. Enquanto os góticos se divertiam, a organização resolveu segurar a entrada dos texanos do Supersuckers no Palco Pílulas até quase o final da apresentação do She Wants Revenge. O resultado foi triste para a veterana banda de rock n roll.

Os Supersuckers podem até ser "a melhor banda de rock n roll do mundo", mas não são assim tão famosos a ponto de segurar o encerramento de um dos palcos do festival. Para piorar, foram escalados no palco mais vazio da edição, montado nos fundos da arena, atrás do ginásio. O resultado foi a apresentação certa na hora e local errados. Experientes e seguros, os caras não se deixaram abater e tocaram todo o seu bom repertório de rock sulista no melhor estilo Ramones, quase emendando uma música na outra. Boas canções como "Sleepy Vampire", "Pretty Fucked Up" e o clássico cover de Thin Lizzy "Cowboy Song" fizeram a festa das poucas pessoas que conheciam a banda, mas o clima estava meio deprê, com pouquíssimas pessoas assistindo a banda e um som tão baixo (apesar de redondo) que era possível conversar com alguém ao lado sem gritar ou falar ao ouvido. Uma pena que as circunstâncias tenham diminuído um belo show.

Horas antes, o mesmo palco tinha visto três boas apresentações seguidas. Os paranaenses do Sick Sick Sinners empolagaram o público com seu psychobilly nervoso e até agradaram os metaleiros com um bom cover de Motorhead, apesar de uma pequena briga ter interrompido brevemente a apresentação. Às vezes não dá certo juntar psychos, straight edges e metaleiros em mesmo palco quando boa parte deles estão bêbados. Em seguida, foi a vez dos porteños do Los Primitivos botarem a galera para dançar ao som de rockabilly. Todos os três músicos eram muito bons e tinham toda a pose e auto-confiança necessárias para tocar bateria em pé, espancar um contrabaixo enorme sem ficar parado e solar na guitarra enquanto cantavam em espanhol e inglês para um público que nunca tinha ouvido falar deles. Uma bela surpresa com direito a cover de Johnny Cash.

Depois dos hermanos foi a vez dos Autoramas mostrarem um setlist que misturou uma primeira parte acústica, como a última apresentação do trio em Brasília, e uma segunda parte elétrica, com os sucessos que fazem a festa dos fãs todas as muitas vezes que a banda vem se apresentar na cidade. Como também já é habitual, o show contou com uma rápida participação de Érica Martins, ex-vocalista do Penélope e esposa de Gabriel Tomáz, em "Música de Amor". Os espanhóis do Right Ons, por outro lado, não acrescentaram muito com seu rock clássico com influência de soul cantado em inglês.

O balanço final da 12ª edição do Porão do Rock pode ser considerado positivo, principalmente se for levado em conta que o evento foi organizado bem em cima da hora e não se tem muita certeza do futuro do festival. Por outro lado, é uma pena que a ONG Porão do Rock não tenha até hoje encontrado um formato ideal para o festival ou a segurança financeira necessária para um planejamento e divulgação de longo prazo. Seria interessante saber se ano que vem o Porão vai acontecer em junho ou em setembro, se vai ser gratuito ou não, se vai ser fechado como esse ano ou aberto na Esplanada dos Ministérios, ou mesmo se ele realmente vai acontecer. Também seria bom se esquecessem a infeliz idéia de incluir uma banda cover entre tantos bons trabalhos autorais. Na opinião desse blogueiro, o festival estava melhor resolvido em suas edições de 2007 e 2008. Tomara que o Porão volte àquela forma.

3 comentários:

Jeaninne Doe disse...

curti a resenha cara!
muito simpatico vc!
heheheheh
dessa vez vc nao falou mal de ninguem! isso é um progresso!?
eu só queria acrescentar que o show do She Wants Revenge foi minusculo perto dos outros.. tinham bandas muito bizarras que puderam tocar muito mais... mas sei la... vai ver eles sao mega desconhecidos por aki...
bjks

Léo Werneck disse...

é, foi bem rapidinho, mas foi legal. valeu a pena ter visto.
acho que a idade avançada tá me deixando bonzinho. vou procurar alguma banda pra eu falar mal...

Rafael disse...

Gostei da resenha. Nunca mais você escreveu sobre algum show. Acho que uma programação cheia é muita cansativa e eu não estou falando por causa da minha "idade". É isso aí. Escreva mais, fale mal de quem quiser, mas escreva. Falow. Inté.