
Cuidado: Contém spoilers, muitos spoilers!
Raramente saio do tema musical aqui no Rock N Cigarettes, mas não posso deixar de falar sobre o final de Lost, que foi ao ar na TV americana no último domingo e será exibido no Brasil na noite de hoje. A série tem sido onipresente na internet nos últimos dias e o episódio final é tratado como as eleições norte-americanas em blogs, sites e até jornais impressos. Para se ter noção da expectativa em torno do episódio de 2h30, houve até transmissão ao vivo e sem legendas com comentários em tempo real de 'especialistas' na página inicial do UOL, o maior portal da internet brasileira.
Além do impacto (inédito?) que a série teve na mídia, acompanho as aventuras dos losties na misteriosa ilha há seis anos e não pude deixar a expectativa e a decepção de lado ao assistir 'The End', capitulo final da saga dos acidentados do vôo Oceanic. Acredito que ao avaliar uma obra cultural ou de entretenimento, é necessário separar dois aspectos: o gosto e a qualidade. Gosto, você já sabe, cada um tem o seu, mas a qualidade pode ser avaliada por critérios e argumentos um pouco mais objetivos. Sobre o final de Lost, não gostei, nem acho que foi bom, qualitativamente falando.
Não gostei por uma razão bem simples. Diferente de muitos fãs por aí, eu não tenho o menor interesse se a Kate terminou a série com Jack ou com Sawyer. Não ligo se o Hurley ficou em paz e também não me emocionei ou chorei ao ver os personagens tendo flashbacks e se reconhecendo no purgatório, limbo, ou que quer que queiram chamar. Há seis anos comecei a assistir um seriado de ficção cientifica, cheio de mistérios sobrenaturais, suspense de deixar arrepiado e questões sobre física, e terminei assistindo uma novela romântica, cafona e melosa, cheia de clichês narrativos e redenções espirituais. Invés de monstros assustadores que ninguém vê, ursos polares em uma ilha tropical e uma escotilha que deixava o mundo exterior de quarentena, vi um bebê nascendo, casais se beijando em câmera lenta e uma luz para o céu, ou algo do tipo. Detestável.
Em relação à qualidade do episódio final, também não acho que ele esteja à altura do restante da série. Muitos têm argumentado em fóruns, blogs e sites por aí que responder a todas as perguntas da série seria impossível e que um final aberto se encaixa muito melhor no estilo de Lost. Discordo. Acho que no que diz respeito à mitologia e questões essenciais, o que vimos não foi um final aberto, foi um não-final. Os roteiristas simplesmente fugiram, escaparam de dar respostas a questões que impulsionaram a trama dos episódios, temporadas e da série como um todo. Isso não é um final aberto. Ao não responderem quase nada, os roteiristas mostraram não serem capazes de amarrar todas as pontas de uma intrincada trama que desenvolveram ao longo de seis anos. Todo o tempo em que criavam mistérios e situações angustiantes, eles estavam tão perdidos quanto os fãs ou os próprios personagens. No meu entendimento, isso caracteriza um final de série ruim. Muito ruim.