sexta-feira, 21 de maio de 2010

O que é 'punk' para você?


A vinda do Green Day ao Brasil tem criado algumas discussões sobre o estado do punk. Nessa semana foi a vez de Luciana Tofollo, colunista do mega-site de cultura pop Omelete expressar suas opiniões sobre o stutus (pop) punk da banda californiana. Como bom apreciador de discussões musicais que não chegam a lugar algum, esse blogueiro fez questão de discordar da autora através dos comentários do site. Como achei a coisa toda interessante, reproduzo abaixo alguns dos melhores argumentos da conversa. Em azul, as considerações da Luciana e em preto, as minhas:

O Green Day vem pra cá. E tem pessoas nutrindo uma baita expectativa por isso. Eu nunca entendi fãs de Green Day. Pra mim sempre foi tão claro que a banda é de uma pobreza gritante e que, se fez sucesso, foi só por uma questão de oportunismo, que é complicado tentar compreender.

Dookie, do qual saíram “Basket Case”, “Welcome to Paradise”, “She” e “When I Come Around”, foi lançado em 1994, mesmo ano em que Kurt Cobain cometeu suicídio, o grunge, naturalmente, dava seus suspiros finais, e toda a leva anterior de excelentes bandas como Faith No More, Red Hot Chili Peppers e Jane´s Addiction lançavam seus álbuns mais fracos.

Então eu entendo que, em um vácuo desses, tenha sobrado uma brecha para o Green Day. Fazendo um paralelo com a música atual: quando tudo está mais do que diluído e que Justin Bieber, a família Restart e os artistas oriundos de reality shows tomam conta das paradas, não tem escapatória... corre pro Green Day. Entendo. O que não dá para entender de forma alguma é chamar o som redondinho dos caras de punk. “Ah, mas eles têm atitude punk”. Cadê? No musical da Broadway? Gostem de Green Day, ok, mas pelo amor de Joey Ramone, deixem a palavra "punk" longe de uma frase que tenha o nome do trio.

Ficar discutindo se os caras do green day são punks e se o som deles é punk rock é pura perda de tempo. Já era uma discussão besta em 1994. O fato é que acho a banda muito boa. Billie joe é um puta compositor de canções pop, que continuam excelentes mesmo quando tocadas ao piano (como fez o Weezer) ou com arranjos bluegrass.

Os dois primeiros álbuns da banda foram lançados originalmente pela Lookout Records, gravadora independente da bay area de San Francisco, que também revelou outros bons artistas de pop punk, como the Queers, Groovie Gouhlies e The Muffs. Assim como o Rancid e o Operation Ivy, o Green Day começou a carreira tocando no clube 924 Gilman, o CBGB's da bay area, que é gerido coletivamente sem fins lucrativos e onde só tocam artistas independentes, muitos ligados ao punk rock.

Por último, a banda realmente se insere na cena californiana de retomada do punk/hardcore [como havia sido citado em outros comentários da webpage], mas foi a única que conseguiu ir muito além disso e se reinventar musicalmente a cada disco, se mantendo relevante por mais de 15 anos, ao contrário de grandes nomes punk como Dead Kennedys e Sex Pistols, que duraram pouco e só têm um disco relevante...

Dependendo do ponto de vista, qualquer discussão é perda de tempo. Mas se a gente não questionar a dita “verdade”, não saímos do lugar. Eu ainda acho que qualquer discussão, mesmo que não chegue a um consenso, serve pra iluminar a cabeça da gente, ver sob outras perspectivas que não a nossa usual. Quanto ao Green Day, já falei o que penso. Quanto ao DK e aos Sex Pistols terem só um disco relevante, primeiro: não é verdade. Segundo: pra você ver o que um punk real pode causar.

Só para esclarecer meu ponto: Sou totalmente favorável a discussões (bem argumentadas) mesmo que elas não levem a nenhuma conclusão. Só acho que discutir quem é ou não punk é um beco sem saída, já que cada um tem uma noção diferente do que é punk. Primeiro seria necessário separar punk enquanto movimento, da música a ele associada, o punk rock. os Ramones são os inventores do som punk rock, mas nunca se alinharam ao movimento punk (inglês?) no que diz respeito ao discurso (tinham muitas letras de amor, humorísticas e non-sense) ou à vestimenta, por exemplo.

Dentre as bandas punks inglesas (a turma de 77), alguns tinham atitude e visão niilista (Sex Pistols), outros se aproximaram do socialismo (The Clash e Stiff Little Fingers) e outros simplesmente cantavam sobre amor e sexo (Buzzcocks), sem falar dos anarquistas. Quem aí é punk? Não me atrevo a dizer. Só sei que eram todos 'punk rockers', que atingindo ou não reconhecimento da mídia e do público, faziam um tipo de música urgente, que expressava as idéias e sentimentos dos jovens da época. Todos também começaram 'fazendo eles mesmos', em um circuito musical underground.

Parece bastante com a história do Green Day, não é? Cuja música em uma primeira fase lembrava bastante Ramones, Buzzcocks, Stiff Little Fingers e Husker Dü. Após 20 anos, os horizontes musicais da banda se alargaram e foram muito além, assim como fez o The Clash a partir do clássico 'London Calling'. Punks? Punk rockers? Jello Biafra é mais punk do que Joe Strummer (líder do The Clash, filho de diplomata, que adorava reggae, rockabilly e compositor do hit pop 'Should I Stay Or Should I Go')? Menos radicalismo, por favor. Não vamos ser a policia do punk, que define quem deve ou não ser considerado punk 'de verdade'.

2 comentários:

Jeaninne Doe disse...

pra q ficar colocandod rotulos?? ultimamente nada é uma coisa ou outra! é tudo uma grande mistureba!

Chris Gar disse...

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