segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A invasão das ex-bandas em atividade


Na última quarta-feira, Marco Aurélio Canônico postou no blog da Ilustrada (o caderno de cultura da Folha de S. Paulo) uma previsão do setlist que o Smashing Pumpkins deve apresentar no Brasil em novembro, dentro do festival Planeta Terra. O repórter não chuta nada, apenas comenta sobre um show da atual turnê da banda que presenciou na mesma semana em Nova Iorque, e relata que a apresentação é focada no ultimo projeto dos estadunidenses, Teargarde by Kaleidyscope, cujas canções vêm sendo lançadas on-line gradativamente, como vem fazendo os britânicos do Ash em seu A-Z Series. Mais interessante, no entanto, é a comparação que Canônico faz entre os vários shows da banda que já viu. A melhor parte é essa abaixo:

É curioso notar como a postura de Billy Corgan no palco mudou, certamente um reflexo de tudo que aconteceu na sua conturbada vida e carreira até aqui. Se no show de 1996 ele encarnava totalmente o espírito "despite all my rage I'm still just a rat in a cage" (a cabeça raspada como uma mensagem, assim como o zero que ele vestia, uma mistura de raiva e depressão) e personificava cada letra de suas músicas, atualmente ele parece um "tio" careca que acompanha uma banda de jovens admiradores, meio abobalhado, sem foco, talvez tentando fazer a linha "disarm you with a smile" - fala algumas gracinhas sem graça, algumas coisas desconexas, alguns "God bless", pede desculpas aos fãs "old school", diz que é um "marionete" que faz o que platéia mandar... enfim, um personagem bem menos interessante e carismático.

Pode parecer repetitivo para os poucos que acompanham o blog regularmente, mas não me canso de comentar sobre as ex-bandas em atividade. Infelizmente, o Smashing Pumpkins de 2010 parece se encaixar perfeitamente na categoria. Sabidamente, o quarteto de Chicago acabou em 2000, depois de ter lançado seu 5º álbum, o pesado Machina/The Machines of God, já sem a baixista D'arcy Wretzky. Após o fracasso de seu novo projeto, o supergrupo Zwan, que lançou apenas um disco, o vocalista e compositor Billy Corgan decidiu reativar os Pumpkins, sem o guitarrista James Iha ou Melissa Auf Der Maur, ex-baixista do Hole que havia substituído D'arcy. Hoje, nem mesmo o baterista Jimmy Chamberlin está mais na formação da banda, que se tornou um projeto solo de Corgan, tal qual o Guns N Roses do egocêntrico Axl Rose e o Hole da eterna viúva de Kurt Cobain, Curtney Love.

Em 2010, todos são ex-astros que se recusaram a virar uma página de suas vidas e seguir com novos projetos musicais, em grupo ou sozinhos, e se aproveitam de uma marca da qual são donos para chamar um pouco a atenção da mídia e dos fãs das bandas das quais faziam parte há 15 ou 20 anos. O resultado só podem ser discos novos esquecíveis e apresentações ao vivo nostálgicas, que tentam emular a magia de um passado cada vez mais distante. Podem até ser shows bons, apesar do novo material, se sua intenção for apenas celebrar grandes músicas do passado, mas na verdade, se parecem mais com bandas cover de si mesmas (com músicos contratados, que em geral tem a metade da idade do frontman em questão) do que com os grupos relevantes que já foram um dia.

Mais engraçado (ou triste) ainda é o caso do Sublime, ou Sublime with Rome, como tem que ser chamada agora, por força judicial, a banda californiana que mistura punk rock, ska, reggae e rap, e que apresentara no festival SWU em outubro. Se nos casos citados anteriormente, os vocalistas, compositores e donos das bandas resolveram usar o nome famoso de seus ex-grupos para chamar atenção e continuar ganhando dinheiro com shows pelo mundo afora, aqui os integrantes de uma banda conhecida também resolveram voltar a fazer um dinheirinho com as músicas lançadas há 15 anos atrás, mas sem o vocalista, compositor e guitarrista. Bradley Nowell morreu em 1996, meses antes do lançamento do 3º álbum (e maior sucesso comercial) do Sublime, vitima de uma overdose.

Pouco importa se o garoto Rome Ramirez é um vocalista ou compositor talentoso. Ver o Sublime sem Brad Nowell seria como ver, em pleno 2010, um show do Nirvana sem Kurt Cobain, morto há 16 anos. Na verdade, é ainda pior, já que o baterista Bud Gaugh está muito, mas muito longe de ser um Dave Grohl. Para piorar, a manobra caça-níqueis foi questionada na justiça pelos herdeiros do ex-vocalista do Sublime, e o projeto foi proibido de usar o nome da antiga banda em suas apresentações, daí o nome Sublime with Rome. O negócio todo se torna ainda mais absurdo se o leitor se lembrar que após o fim da banda de Los Angeles, Bud Gaugh e o baixista Eric Wilson formaram junto com vários outros maconheiros californianos o bom Long Beach Dub All-Stars, que lançou dois álbuns muito respeitáveis. Mas sem o nome famoso, o sucesso comercial não veio, o dinheiro foi acabando e a exploração da nostalgia dos fãs se tornou a opção mais lucrativa. Pelo menos bandas como Pixies e Pavement têm a coragem de deixar claro que não pretendem lançar material novo e querem apenas tocar seus sucessos por aí. E com a formação original, que realmente criou o material que executará ao vivo, o que também faz uma grande diferença.

Um comentário:

Jeaninne Doe disse...

concordo q quando bandas mudam tanto os integrantes seria melhor se ela mudasse de nome, ja q nao é mais a mesma coisa...
mas eu tb acho bizarro uma banda anunciar que nao vai mais lancar nada e vai ficar viven do dos seus hits... ah... vai trabalhar! vc vive da musica e acha q o q ja foi feito ate agora ta bom? entao para d fazer sows e comeca a vender eles em dvd!
ehehhe