
Criado em 1997, o Sugar Kane é um grupo rodado, que já viveu momentos de sucesso underground e períodos de entressafra típicos da realidade do rock independente brasileiro. Ao longo dos anos, a banda trocou o inglês pelo português, saiu do hardcore, passeou pelo pop punk quase radiofônico e pelo rock alternativo, até voltar para o hardcore melódico. Esse ano, o quarteto de Curitiba lançou um EP digital em inglês e, ano passado, um novo álbum em português, chamado A Máquina que Sonha Colorido.
Toda essa estrada serviu para que o Sugar Kane se tornasse uma das bandas independentes mais profissionais do país, e para que seus integrantes melhorassem como instrumentistas e compositores. Com uma gravação primorosa, A Máquina que Sonha Colorido não fica devendo em nada aos melhores lançamentos gringos do mesmo estilo musical. A única canção fraca do álbum é "Rockstar", um popzinho temperado com ska de segunda que não vai a lugar algum. Musicalmente, portanto, o resultado é bem positivo, com um instrumental empolgante, melodias bem resolvidas e produção e gravação primorosas.
Uma coisa, no entanto, incomoda ainda mais hoje do que já incomodava anteriormente: as letras das músicas. Sempre é possível ignorar letras ruins cantadas em inglês ou em qualquer outro idioma que não seja o seu, mas quando Capilé martela em sua cabeça frases constrangedoras sobre a "revolução", sobra apenas a vergonha alheia que impede o desfrute do som da banda.
A maior parte delas é um amontoado de clichês revoltados que vão do batido o-consumismo-da-sociedade-capitalista-te-mantém-escravizado-e-infeliz até o conhecido eles-tentam-nos-destruir-mas-nós-somos-mais-fortes, passando pelo clássico ela-se-esqueceu-da-revolução-e-vendeu-seus-ideiais. Quando a banda tenta fugir da temática, o resultado á ainda pior, como na já citada "Rockstar" e em "Repito", que conta com uma das descrições de sexo mais escrotas já transformadas em música. A letra não é engraçada e passa longe de ser sensual ou reflexiva, é apenas escrota. O constrangimento é tão grande que estraga o que poderia ser um dos melhores álbuns de hardcore melódico brasileiro.